"Ele virou o fiscal da casa, presta atenção
no que comemos e se estamos praticando atividade física. Mas ainda resiste em
comer frutas e verduras", diz o analista de sistemas Fábio Guedes, 46.
O "fiscal" é o filho Vinícius, 11, uma
das 197 crianças que participaram de um projeto educacional inédito que avaliou
o poder de persuasão dos alunos na mudança de hábitos dos pais e na adoção de
um estilo de vida saudável.
A conclusão é que, sim, a estratégia dá certo. Os
pais reduziram os riscos cardiovasculares, calculados sobre fatores como
obesidade, tabagismo, colesterol, pressão alta e diabetes.
O estudo foi feito em uma escola privada de
Jundiaí (SP)e publicado na revista científica "European Journal of
Preventive Cardiology". Na terça-feira (16), o trabalho será apresentado
em um fórum de cardiologia em Roma.
"Fomos premiados na Europa e nos EUA. Até a
China quis conhecer a nossa experiência. Mas aqui a repercussão foi zero",
queixa-se o cardiologista Bruno Caramelli, pesquisador do InCor (Instituto do
Coração) e coordenador do trabalho.
ORIENTAÇÕES
O projeto envolveu alunos com idades entre 6 e 10
anos e seus pais. Eles foram divididos em dois grupos, com duas abordagens
distintas.
Pais de estudantes do período da manhã
(grupo-controle) receberam folhetos educativos com orientações sobre
alimentação saudável e a importância de realizar atividades físicas. Seus
filhos não receberam informações.
Os pais dos alunos da tarde também receberam os
folhetos, mas os filhos assistiram a palestras sobre prevenção cardiovascular.
Nutricionistas ensinaram como seguir uma alimentação saudável e fisioterapeutas
explicavam a importância dos exercícios.
"Em momento algum foi dito às crianças para
cobrarem dos pais essas atitudes saudáveis", explica a cardiologista
Luciana Fornari, autora principal do estudo.
Os dois grupos passaram por exames e medidas de
peso, altura e pressão arterial.
Ao final de um ano, 91% dos pais do grupo da
intervenção deixaram o estágio de alto risco com relação às doenças
cardiovasculares. Já a diminuição entre os pais do grupo-controle foi de 13%.
"Quando os conceitos são passados de forma
divertida, as crianças os incorporam e cobram mudanças da família", afirma
Luciana.
O projeto agora está sendo replicado em duas
escolas públicas de Campo Limpo Paulista (SP). Participam dele cerca de 500
crianças e mil pais. A proposta é ver, a longo prazo, se o efeito das mudanças
será duradouro.
No projeto em Jundiaí, algumas delas não foram.
"Na época do programa, caminhávamos todos os dias, éramos estimulados.
Agora falta tempo", diz Sueli Razzé, 47, mãe da aluna Natalie, 13.
Sem atividade física, o marido engordou três
quilos e a filha, um. "Sem incentivo permanente, é difícil manter."
Já alguns dos bons hábitos alimentares permanecem.
"Cortei as frituras e quase não faço mais doces", conta.
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